VOLTA ÀS AULAS: OS RISCOS DE NÃO VOLTAR

31/08/2020 16:13

Maria Angela Gomes*

 

 

A escola não é apenas um espaço pedagógico, ela é um aparelho do Estado importantíssimo para garantir segurança para crianças em vulnerabilidade social. O assunto é polêmico no campo pedagógico, uma vez que a instituição se torna um braço do governo, no entanto, é inegável suas funções dentro da sociedade. Milhares de crianças em quarentena deixaram de frequentar o espaço físico que garantiam a elas segurança, conforto e até mesmo alimentação. Nesse sentido o olhar para o retorno às aulas é o que conduzirá o artigo de hoje, mas não sem pensar em segurança e direito à vida.

 

A escola faz parte de uma rede de proteção, é nela que inclusive, os diagnósticos de violência, fome e vulnerabilidade são especificados e as demandas passadas para os órgãos responsáveis. Crianças em isolamento tendem a situações de vulnerabilidade amplificadas, no escopo socioemocional, de saúde, alimentar, entre outros. No retorno às aulas a escola precisará dobrar esforços para identificar e literalmente “correr atrás do prejuízo” de cerca de cinco meses (até o momento) de crianças com tais características que permaneceram longe dos olhos de seus principais apoiadores. Mas não é só esse o problema que nos aflige enquanto sociedade, recentemente, a UNESCO trouxe uma informação alarmante: teme-se que 24 milhões de estudantes deixem as escolas devido à Covid-19. No Brasil esse número é alarmante pois já é um dos países campeões em evasão escolar.

 

A evasão escolar passa por diversas faixas etárias. Nos últimos anos vêm se trabalhando para compreensão da sociedade de que a educação infantil é um direito da criança a partir dos quatro anos de idade, com isso torna-se obrigatória sua frequência no sistema de educação. Já enquanto adolescentes e pré-adolescentes, a sociabilidade é um fator fundamental para permanência de jovens dentro da rede de ensino, ou seja, se durante cinco meses eles perdem o vínculo com os muros da escola é natural que achem que não precisam dela para aprender. Além destes ainda estão os jovens e adultos que ao deixar de frequentar às escolas tendem a diminuir o acesso após a quarentena, uma vez que ao longo de suas vidas já passaram por esse processo de evasão. Nesse sentido podemos afirma que se perde do 0 aos 60, 70, 80 anos.

 

Muito se perde porque o Brasil ainda é um país recente no que se tange a “cultura escolar”, ou seja, a compreensão do significado compartilhado do cotidiano da escola, seu valor, importância para sociedade, etc. Muitas gerações ainda estão saltando em níveis educacionais. Pode-se perceber isso analisando diversas famílias nas quais apenas recentemente seus membros conseguem completar o ensino médio ou superior em comparação a geração anterior, que encerrou os estudos no nível fundamental, por exemplo. A escala pode ser ainda mais prolongada se analisarmos famílias com índices de analfabetismo, que ainda são dados preocupantes para 2020, ainda que tenhamos avançado nos últimos anos.

 

As escolhas de hoje podem significar que uma geração inteira de jovens vá ficar presa no ciclo da pobreza. No Brasil, educação e renda estão diretamente relacionados. As informações aqui colocadas não são a favor de um posicionamento, mas de uma boa reflexão para tomada de decisões que se comprometam a pensar em todos, afinal, educação é para todos.