Crônica "O Brilho se Apagou"

05/07/2014 10:24

Aquele sábado...

        Dois meses antes era luz, fogo que ardia dentro do peito, coração acelerado, vermelho pulsava sangue em excesso, corria na veia a chama de um amor descompassado, acelerado, atormentado e ardente, um desejo incontrolável de tê-lo ao meu lado. Não havia mais da minha parte receios, prisões, não era mais proibido. Podia sentir meu corpo em brasas esperando pelo toque de suas mãos, pelo calor de seu corpo, por braços a me envolver em um turbilhão de emoção, podia imaginar momentos de puro êxtase e explosão, um amor guardado a sete chaves, sonho, sofreguidão. Meses antes havia dito que conversariam e terminaria tudo e a esperança brotou no meu peito feito um tufão, arrastou-me a aceitos dos mais puros aos mais perversos desejos, falava a todo o momento em teu nome, ria-se de mim mesma das besteiras pronunciadas, amigos se divertiam quando dizia, “Vou sequestra-lo, rouba-lo pra mim”. Era só um misto de amor e paixão.

        Mas naquele sábado aquela mulher... vi passar, se estivesse eu sozinha teria ali naquela rua caído a chorar, era o sinal do que nunca quis acreditar, o tormento na mensagem ao celular, a confirmação era ela a passear nas ruas da minha cidade onde ali espera nunca mais encontrar, com ódio no coração, amargura sem solução. Questionei o término que nunca aconteceu, enviei-lhe um “Que Bom! Sejam felizes!” e desliguei-me na escuridão, acabou me feriado, fevereiro mês desgraçado! Fui espectro sem luz, sonho na inconsequente ilusão, voltei a ser menina, frágil, indefesa, mas com tanto ódio no coração, não havia mais lágrimas, a dor fora tão intensa que parecia um punhal enfiado tão fundo que a alma desprendeu-se do corpo a vagar na solidão. Tranquei-me no quarto, minha vontade de morrer cresceu, tomou conta do meu ser e fez-se transparecer no mau humor não mais contido, notado por todos ao meu redor.

        Jurei: “- Morreu pra mim”! Coração infeliz na tristeza sem fim, desgraçado, amaldiçoado. Não és tu digno de amar um homem que não te faça chorar, que não te atormente a alma ou que simplesmente corresponda na mesma intensidade o verbo amar? Questionei-me... Sabotei-me ao trancar minha alma. Na semana seguinte o celular tocou sem parar do outro lado da linha você a chamar. Como atender? Ouvir sua voz? Amor NUNCA correspondido, como naquele momento responder com doçura a amizade de tantos anos que ali  me cortava a alma o sentimento de raiva sem fim. A música da chamada escolhida a dedo, que dizia esperar a vida toda por um beijo, por um momento. A briga interna de um lado desejar ouvir sua voz, mas de outro o que ela diria que eu não saberia antes? Aquele pouco tempo pareceu um século. Não atendi! Não mais te vi! Sabias que estaria aqui meses depois me recusei de sair, era medo de esbarrar em ti.

        Tempos depois ouvi sua voz, troquei e-mails e mensagens, mas não foi a mesma coisa, evitei sua presença física, quando sabia que vinha a cidade, fugia de ti, como criança indefesa a se defender de um perigo sem fim, tranquei-me em um mundo que não tenho, mascar-me-ei e enfrentei o destino de ser amada por quem me ama sem exigir que esteja tão presente em momentos de paz, por quem sinto carinho e que se esse é o verdadeiro amor ainda não sei dizer, pois a tempestade que você sempre causou em meu coração me faz falta e parece ter apagado um brilho dentro de mim, como um sonho findado de uma história que nunca teve um começo, um meio, mas que num momento de mentiras teve um fim.  Naquele sábado o brilho se apagou, restando o carinho de ser chamada tantas vezes de anjinha sem nunca ter sido  a “anjinha” que sempre quis ser na vida pra você e fim.

2014 por Monique Bertoldi