A SOBRECARGA DAS PEDAGOGAS EM HOME OFFICE

04/08/2020 20:20

Maria Angela Gomes*

 

Quando falamos em home office em tempos de pandemia uma série de questões vem à tona, nos deparamos com realidades distintas e questões que precisam ser tratadas. O home office antes mesmo do isolamento social já vinha sendo cogitado por empresas que diziam pensar no futuro de forma prática e saudável para seus colaboradores, que em vias de regra não precisariam gastar horas no trânsito com deslocamento enquanto a empresa lucraria em economias com os gastos em transporte, luz, água, internet, entre outros. Contudo a realidade do brasileiro é diversa, sabemos que nem todas as moradias são planejadas e respeitadas para o silêncio absoluto que muitos cargos impõem, sabemos também que existe uma série de condutas que precisam ser revisadas em nossa sociedade para que os lares sejam de certa forma “funcionais”; uma delas, por exemplo, é a diferença de gênero; mulheres e mães, na maioria dos lares brasileiros, possuem sobrecarga superior a homens em serviços domésticos, que acumulados com serviços em home office tornam-se algo além do que se pode suportar. Nesse sentido aproveito para falar das professoras, mais especificamente das pedagogas.

 

Poderíamos direcionar o artigo de hoje para sobrecarga de todos os professores que tiveram suas rotinas drasticamente transformadas e estão em grande maioria sendo desrespeitados quanto as demandas, horários de serviço e adaptação de aparelhos tecnológicos que não faziam parte do orçamento. Contudo, hoje escolho falar sobre a questão feminina para levantar a reflexão sobre o trabalho das pedagogas, uma vez que a demanda de trabalho da educação infantil sempre exigiu trabalhos manuais, muitas vezes feitos em casa. Destaco, no entanto, que os pedagogos também fazem parte desse processo e muitos homens estão dentro da realidade aqui abordada, mas em estatística a mulher brasileira, segundo dados de 2019 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, na comparação com 10,3 horas semanais dos homens.[1] Ou seja, em tempos de pandemia esses dados tendem a aumentar e é nesse sentido que levanto outra informação estatística, a quantidade de mulheres na educação infantil, que é extremamente superior: dos 320.321 professores de pré-escola, 304.128 são mulheres, contra apenas 16.193 homens, número quase 19 vezes maior. Nas creches, a proporção supera 40 vezes: são 266.997 mulheres e 6.642 homens.[2] Evidente que não precisaríamos de dados para perceber que as mulheres dominam os setores da educação infantil, mas são por esses motivos que hoje falamos delas: as pedagogas!

 

Todo professor precisa planejar suas aulas, seria inviável controlar uma turma sem um planejamento. Na educação infantil esse plano de aula precisa ser pensado e repensado de acordo com o desenvolvimento da turma, o que exige imaginação, empatia e muito trabalho. Tornar a educação a distância lúdica é algo extremamente trabalhoso, afinal, tornar a educação lúdica já é um desafio. O que precisamos pensar enquanto sociedade é no quanto de trabalho há por trás de cada câmera de um professor e professora. Milhares de mulheres estão dentro de suas casas precisando lidar com demandas infinitamente superiores para que suas aulas cheguem a algumas crianças e a educação não pare. Ser criativa em tempos de pandemia é uma exigência e tanto. Professoras, mulheres, precisam ser reconhecidas e valorizadas, mas mais do que isso, precisam ser compreendidas como mulheres.

 

 

SERVIÇO

* Maria Angela Gomes é professora de História, mestranda em História Social e atua na área de educação há 04 anos com reforço escolar e educação multidisciplinar.

 



[1] GLOMB, Márcia. Revista Cobertura, 04 de junho de 2020.

[2] https://vermelho.org.br/2018/03/08/professoras-sao-maioria-no-ensino-basico-mas-minoria-na-universidade/#:~:text=Hoje%2C%20de%202%2C2%20milh%C3%B5es,1%2C8%20milh%C3%B5es%20s%C3%A3o%20mulheres.&text=J%C3%A1%20na%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Infantil%20as,n%C3%BAmero%20quase%2019%20vezes%20maior.